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Matéria Sutil

Geralmente pensamos em audiovisual como se fosse algo meio que abstrato, imagens mais palavras mais sons… Ou, visto de outra maneira, ele constitui um produto que resultou de um trabalho com artistas e técnicos.

Pode estar correto pensar desta forma, todavia melhor é arredondar esta noção com a idéia de que se trata de um processo criativo e produtivo que foi gerado de uma ou mais cabeças.

Por exemplo, tome-se um tema do qual gerar algum tipo de audiovisual como conteúdo do produto. Dele pode-se extrair um assunto ou uma matéria, mas só será bem aceito por um público, no sentido de apreciação, se ele for investido por uma forma, uma roupagem estética que contenha pelo menos um modo interessante de ele ser contado; em outras palavras, o tema carece de um tratamento sensível pelo qual o espectador tenderá a se envolver de modo espontâneo, natural e, no mais das vezes, inconsciente.

Interessante notar como a apreensão de algo é inconsciente. De modo automático, passamos a nos corresponder com um conteúdo que causa-nos atração irresistível, como se fôssemos laçados por uma corda invisível que ata a nossa atenção a algo transmissor de informação.

Quando se fala em informação, não estamos querendo nos restringir a uma matéria jornalística; mas, de outro ângulo, buscando olhar a informação como uma matéria prima fundamental da criação de um produto audiovisual, seja ele de natureza puramente informativa ou ficcional. Ela nasce do desejo do autor em transmitir modos de uma determinada visão de mundo a respeito de um tema palpitante para o receptador. E este, alçado a uma base subjetiva de atenção, capta com as antenas da consciência aquilo que seu inconsciente aspira em termos de identificação, correspondência, atração, intercâmbio, intuição e retroalimentação. Em outras palavras, o inconsciente do espectador é que responde ativamente à proposta vista na tela e entra em sincronia dedutiva com pelo menos uma possibilidade gerada a partir daquela informação com a qual se interagiu.

Tome-se um diálogo entre dois personagens envolvendo um terceiro ausente:

“Eu queria mesmo falar com você. Estive lhe procurando por toda parte”. “Qual é o jogo, Demétrius, porque a trama eu já sei”. “Você pode saber, mas ela não sabe”. “Será? Você não devia subestimá-la em sua inteligência. Ninguém é tão imbecil a esse ponto”. “O problema é que talvez ela queira se queimar com ferro frio.” “Não estou entendendo…” “O jogo é fazê-la acreditar que eu e você sabemos de uma coisa que ela não sabe”. “Mas ela pode deduzir. Você viu a cara que fizemos?” “Como poderia? Eu aposto que você também não conseguiu ver.” “Eu vi sim, só que refletido no rosto dela”. “Como assim? Não dissemos uma palavra!” “E precisa?!”

Talvez este trecho mostre que a transmissão de uma informação pode ser muda. Apenas um olhar, ou um gesto, ou um franzir de testa, pode transmitir coisas significativas que façam pessoas deduzirem, pensarem, imaginarem. Isto não só no âmbito interno da história, mas, também, no plano do espectador que também se força a deduzir, pensar e imaginar o que esses supostos personagens estão querendo dizer, tramar ou até mesmo esconder. Há um envolvimento que conecta pensamentos e atenção. É isto que queríamos dizer com sincronia dedutiva da informação entre inconscientes que estão interligados por um conjunto de dados transmitidos e sentidos num plano subjetivo.

Geralmente as informações são compartimentalizadas; ou seja, elas são postas em lugares mais ou menos dispostos no roteiro onde o roteirista enxerga estrategicamente seu tamanho e qualidade, com propósitos de interferir no entendimento ou na lógica que o espectador terá daquilo que está sendo informado. Uma espécie de manipulação positiva das expectativas e desejos do público para com a história que está sendo contada.

Neste caso, ocorre algo como um modo interessante de informar a ele, espectador, sobre elementos com os quais sua dedução lógica define para si aquilo que está em jogo na história. Esta é a forma, a roupagem estética ou sensível pela qual se tenta interagir com o modosubjetivo de ver e deduzir do espectador para com um determinado conteúdo temático que se propõe.

Os aristotélicos falam que esse processo como um todo cria vínculo com o público, que espera, torce e deseja de seus personagens como se o próprio espectador estivesse na pele deles. Por isso também falamos do envolvimento que o espectador opera de modo espontâneo, natural e, no mais das vezes, inconsciente com aquilo que está sendo informado na história.

E isto vale para as emoções inclusive, pois elas são intercambiáveis. Quem sente, manifesta sua dor, ódio, amor ou alegria de acordo com signos e sinais reconhecíveis por todos (ou quase todos); e, se é assim, nada mais justo do que saber dosar as informações de uma história para criar um ritmo, que na música é visto como um caminho, a fim de que autor e espectador sigam par e passo ligados pelo inconsciente, tal qual forma e conteúdo são entrelaçados para fazer do processo da arte audiovisual o tema deste artigo.

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